Nas vésperas de eleições, é comum que o eleitor se depare com um turbilhão de emoções, debates e promessas. Contudo, há um aspecto mais profundo, espiritual e ético que pode ser iluminado pela obra-prima de Dante Alighieri, A Divina Comédia, especialmente o Inferno. Esse primeiro livro da trilogia de Dante revela não apenas uma jornada mítica pelos círculos da condenação, mas também pode ser lido como um espelho da alma humana em seus desafios cotidianos, incluindo a responsabilidade de escolha, tão central em tempos de votação. 2yu2i
No Inferno, Dante descreve sua descida através dos nove círculos, onde as almas são punidas segundo os pecados cometidos em vida. Esses círculos são metáforas poderosas sobre as consequências das ações humanas, refletindo o destino da alma quando afastada da justiça, da verdade e do bem. A cada círculo, Dante encontra figuras históricas e mitológicas que representam a corrupção, a traição e o egoísmo, revelando a condição humana quando desconectada da virtude.
Esses personagens e suas punições falam diretamente à nossa espiritualidade cotidiana, desafiando-nos a reconhecer como nossas decisões, tanto pessoais quanto sociais, moldam o ambiente em que vivemos. Dante nos convida a refletir sobre como a ignorância, o orgulho e o desdém pelo bem comum podem levar não apenas à nossa própria destruição, mas ao caos ao nosso redor.
Nas vésperas das eleições, o ato de votar pode ser visto como uma expressão da espiritualidade cotidiana. A espiritualidade não é apenas um refúgio pessoal, mas uma postura ética em relação ao mundo. O voto, nesse sentido, é um exercício de discernimento, onde a consciência individual deve se aliar ao bem comum. O eleitor, como Dante, deve encontrar um guia — seja em valores morais, na justiça social, na verdade — para tomar decisões que não se deixem seduzir por falsas promessas ou interesses egoístas. Dante alerta sobre o perigo dos vícios que, em analogia, podemos observar no cenário político atual: o populismo que distorce a verdade, a corrupção que age em detrimento do povo e a apatia que permite que injustiças prevaleçam. A jornada pelo Inferno é um lembrete de que esses vícios, quando não confrontados, geram sofrimento coletivo.
Nas eleições, é fácil cair no "círculo infernal" da indiferença ou do voto inconsciente, sem pensar nas consequências a longo prazo. A escolha de líderes que favorecem a desigualdade, o desrespeito aos direitos humanos ou a corrupção política equivale a colaborar com esses vícios, reforçando os "círculos" de decadência que aprisionam a sociedade.
Dante termina sua jornada no Inferno ciente de que a escuridão não é o fim. A consciência clara das consequências do pecado, tanto pessoal quanto coletivo, leva à busca por redenção, que em seu caso é representada pela ascensão ao Purgatório e ao Paraíso. O eleitor, igualmente, deve ter em mente que o voto é uma ferramenta de transformação — não apenas uma obrigação cívica, mas uma oportunidade de promover um futuro mais justo e virtuoso.
Assim como Dante, que ao descer ao inferno não se deixou aprisionar pela desesperança, também o eleitor deve olhar para as vésperas das eleições com responsabilidade e esperança. A espiritualidade cotidiana, aplicada à política, nos chama a agir com ética e discernimento, escolhendo líderes que representem verdadeiros valores de justiça e bem-estar comum.
Votar, portanto, é um ato de coragem, uma escolha que pode evitar que nossa sociedade se aprofunde nos "círculos infernais" de corrupção e opressão. Assim como Dante encontrou em Virgílio um guia para sua jornada, também devemos buscar princípios sólidos e verdadeiros que orientem nossas decisões eleitorais. Que nosso voto seja uma escolha iluminada pela justiça, pela verdade e pelo compromisso com o bem comum — e não apenas uma escolha entre candidatos, mas um o na construção de um futuro mais justo e virtuoso.
O evento retorna para sua 6ª edição, reafirmando sua importância para a música independente de Arcos e região. Com entrada gratuita e espírito de resistência, o festival será mais do que um evento, será um grito pela valorização da cultura autoral.